Carboidratos e Gorduras no Foco de Debates

O alto consumo de carboidratos foi associado a uma maior taxa de mortalidade, enquanto que o de gorduras a uma menor. Essas são as conclusões do estudo PURE publicado recentemente no periódico Lancet.

Trata-se de um estudo epidemiológico e prospectivo que envolveu 18 países, inclusive o Brasil, com 135.335 indivíduos de 35 a 70 anos, avaliados com questionários específicos e acompanhados por sete anos. Os participantes foram categorizados de acordo com os hábitos alimentares, levando-se em consideração a porcentagem de carboidratos, gorduras e proteínas na dieta. O alto consumo de carboidratos foi associado ao aumento da taxa de mortalidade em 28%, porém não houve relação com risco de doença cardiovascular ou mortalidade para esse tipo de doença. Já o consumo de gorduras totais ou tipos específicos foi associado à diminuição da taxa de mortalidade em 23%. Além disso, os autores também encontraram relação do alto consumo de gordura saturada com redução de 23% no risco de acidente vascular cerebral. Nem carboidratos nem gorduras foram associados a doenças cardiovasculares.

Os achados desse estudo são surpreendentes. Entretanto, devemos avaliá-los com cautela. O artigo não menciona o tipo de carboidrato ingerido, ou seja, se foi carboidrato composto ou alimentos com açúcar. É diferente o desfecho de um indivíduo que come muitas frutas e cereais integrais daquele que ingere grandes quantidades de refrigerantes e doces. O segundo terá mais chances de desenvolver obesidade e doenças relacionadas, que, por sua vez, levam ao aumento da mortalidade. Além disso, há fontes de carboidratos provenientes de alimentos processados que possuem sódio e gordura trans em excesso. Outro ponto a ser considerado no estudo foi o aumento da ingestão de carboidratos em 67,7% do total de calorias ingeridas. Isso é acima do recomendado pelas diretrizes de saúde, que varia de 45 a 65%. Portanto, é de se esperar que esse excesso leve aos problemas de saúde. No caso das gorduras, a ingestão máxima foi de 35,3% do total de calorias, o que está dentro do adequado, que varia pelas recomendações de 20 a 35%.

Ou seja, o abuso do carboidrato, muito provavelmente dos mais nocivos, influenciou os resultados desse estudo.

Como há diversos tipos de carboidratos e gorduras, podemos ter duas dietas com a mesma quantidade desses nutrientes, podendo ser saudáveis ou não. Ou seja, deve prevalecer o bom senso na escolha dos alimentos e não simplesmente fazer restrições extremas de carboidratos ou abusar do uso de gorduras, como pode sugerir a conclusão do estudo. Frutas, verduras e legumes devem fazer parte da dieta de forma abundante, enquanto sódio, açúcar e gorduras devem ser ingeridos de forma contida e dentro das recomendações dos guias práticos de alimentação.

O estudo deixa a mensagem que as gorduras não são tão maléficas como sempre se pregou, desde que consumidas dentro das diretrizes de recomendações, e os carboidratos devem ser ingeridos com cautela, devendo-se evitar os refinados e os de origem em alimentos processados. Ainda vale a premissa que a associação de alimentos balanceados com atividade física regular é a melhor estratégia para uma vida mais saudável e duradoura.

 

Referência:
Dehghan M, et al. Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. Lancet 2017 published on line on August 27th